sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Padrão de beleza contemporâneo


Estava revoltada, não aceitaria por nem mais um segundo as ofensas.
- Gorda, baleia, saco de areia! – Os meninos cantarolavam em coro.
Pensou em bater neles, mas sabia que isso não iria resolver sua situação. No outro dia, lá estariam eles perseguindo-a novamente.
Chegou a casa e se trancou no quarto. Escreveu no diário que só sairia de seu recinto quando emagrecesse 14 quilos. Jogou o sanduíche que a mãe havia feito pela janela e passou mais três dias sem comer.
No quarto dia, sentiu uma tontura e tudo ficou escuro. Acordou no hospital. A mãe, preocupada, recebia as orientações do médico e tentava entender o que havia acontecido com a filha. Esta arrancou as agulhas que a nutriam com o soro e fugiu. Não podiam obrigá-la a tomar soro. Soro engorda.
Às vezes comia uma folha de alface ou uma maçã, mas nada que tivesse muitas calorias. Seu corpo começou a sentir falta dos nutrientes e, como se protestasse, os cabelos começaram a ficar opacos e cair. Sua cor bronzeada deu lugar a um amarelo desbotado e lhe faltava força até para carregar a mochila do colégio.
Os meninos tiveram que inventar outra canção.
- Magricela, careca, amarela!
Ela já não se importava mais, só queria estar como as meninas das revistas e conseguiu. Superou-as, na verdade. Contados quatro meses, faleceu.
Finalmente realizaria seu sonho, viraria apenas ossos.